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Josiane Monaco Nunes publicou uma atualização 6 anos, 2 meses atrás
Fato que levou a proposta do círculo
Um adolescente (T.)que frequenta minha Unidade Ceconp estava sofrendo bulyng por parte de
outros jovens em razão de ser considerado homosexual. Esta situação estava ficando muito
evidente e o bulyng era praticado principalente por outro jovem D.Y.) da mesma unidade de
internação ,que por sua vez também sofre bulyng pelo fato de não ser vinculado a nenhuma
facção.Um terceiro jovem (w.) de outra unidade de internação resolveu fazer o papel de
“defensor’ de (T.) por achar tratar-se de uma injustiça e por consequência disto instigava os
outros a bater em (D.Y) registro aqui que este terceiro jovem exerce liderança entre os demais.
Pré círculo
Conforme orientação o primeiro jovem a ser chamado foi T.( a vítima).
Em uma conversa individual expliquei ao jovem que estava à par da situação que
possivelmente estaria acontecendo e em conversa ele assumiu que era verdadeira. Me trouxe
que estava se sentindo muito mal com as insinuações,piadinhas, apelidos, constantes que
estavam ocorrendo tanto no Ceconp quanto em sua unidade de internação. Expliquei que ele
foi chamado porque eu queria propor uma maneira de podermos tratar com os outros jovens
as questões que o afligiam e que para isto utilizaríamos a metodologia da circulo de
construção de paz trazendo para ele um pouco sobre como era esta metodologia..Expliquei
também que aquilo era um convite e que se ele aceitasse haveria uma conversa individual com
cada um dos jovens envolvidos e que eles também somente participariam se assumissem o
que estava ocorrendo e aceitassem participar.
O mesmo achou interessante, disse que já havia participado em sua unidade de um circulo
familiar e que aceitava realizar o circulo para ver se conseguia melhorar as relações para que
pudesse cumprir sua medida mais tranquilo.Trouxe na conversa o nome dos jovens que mais o
importunavam . Também indaguei se ele gostaria de convidar alguém de sua unidade para
participar círculo e ele solicitou que o técnico de referência que o atende participasse , no
caso o A. Social da Unidade Alexandre.
O segundo jovem a ser chamado para a entrevista individual foi (D.y) que assumiu estar
praticando bulyng contra T. Fiz a proposta de tratarmos este assunto através do circulo e o
mesmo primeiramente disse que não tinha interesse porque já estava para sair ( em 15 dias
teria audiência) Conversei mais um pouco trazendo também a questão de que ele além de
estar praticando o bulyng também estava sofrendo bulyng e em uma conversa bem tranquila o
mesmo achou interessante “experimentar esta reunião”.
O terceiro jovem a ser chamado foi o (W) que também assumiu que a situação estava
ocorrendo e que ele por julgar que DY era o que mais perseguia T. também queria fazer justiça
fazendo com que os outros batessem nele. Após uma conversa expliquei sobre a metodologia
e que seria uma maneira bem interessante de abordarmos estes assuntos. Este jovem trouxe
inclusive que já havia assistido uma reportagem sobre círculos que ocorriam nos EUA e se
mostrou com muito interesse em participar e resolver esta situação porque expliquei que esta
metodologia nos trás muitas vezes o entendimento do ‘porque’ em algumas situações agimos
de determinadas maneiras trazendo sobre o jovem D.Y.
Após esta três entrevistas iniciais mais cinco jovens foram chamados onde foi exposta a
situação e convidados a participar aceitaram.
Ao finalizar as entrevistas marquei um horário com o A.S. Alexandre que atende T. e que já
trabalha com Círculos de Construção de Paz dentro da Fundação. O mesmo relatou que vem
dando um atendimento mais efetivo ao jovem T. justamente em função destas situações e de
outras que levam em conta inclusive questões de diagnóstico médico deste adolescente. Por
este motivo o mesmo solicitou que não fosse feito o círculo porque poderia acarretar em
revitimização da vítima.
Bem gostaria de registrar aqui que estando com tudo programado foi como um “balde de água
fria’ porque senti que seria um círculo muito interessante, mas não me achei no direito de
desrespeitar uma solicitação feita pelo profissional técnico que atende o jovem até porque se
algo desse errado eu sequer conseguiria dar continuidade ao curso.
Fiz contato por mensagem com a professora Eliane explicando o ocorrido e a mesma me
sugeriu fazer um círculo com os ofensores.
Gostaria de relatar ainda que minha colega de curso Eliane está afastada envolvida com
doença de familiar e por este motivo iniciei o processo sozinha.
Como relatei no encontro do comitê, aqui na Fase há alguns anos já temos trabalhado com
justiça restaurativa e por consequência alguns servidores já participaram de capacitações mas
poucos são os que tem colocado em prática. Por este motivo tomei a decisão e já relatei para
minha equipe de trabalho que todos os capacitados devem iniciar as práticas e dar retorno as
capacitações que a Fase vem ofertando.Na unidade que dirijo por exemplo faltavam apenas 3
servidores a realizar a capacitação sendo assim inscrevo os mesmos na capacitação realizada
pela Ajuris no projeto Escola mais paz que ocorreu na semana passada. Também defini que
para incentivar e dar segurança nas práticas a cada circulo que eu realizar vou chamar um ou
dois colegas para participarem junto como forma de praticar. Por este motivo convidei dois
colegas para este círculo, ambos capacitados pra círculos não complexos .
Gostaria de registrar também que todos os adolescentes convidados ao círculo participam de
um projeto onde a cada 15 dias fazem um trabalho voluntário na entidade denominada
Educandário São João Batista que trata de crianças e jovens com paralisia cerebral e que ao se
depararem pela primeira vez com esta clientela sofrem um choque de realidade e voltam
muito comovidos. Procurei durante o círculo que trabalhava também a empatia como forma
de não julgamento,fazer um link com esta atividade.
ROTEIRO DO CÍRCULO
Objetivo do círculo: Circulo para falarmos de inclusão e pré-conceitos
Peça de Centro: Um pano de prato( das oficinas)livros A canção dos direitos das crianças
,Quem tem medo do feminismo negro, Mandela, uma bandeira arco Iris representando o
movimento LGBT,uma figura de várias mãos de varias cores9 representando as diversas
etnias, raças, cores de pele….) uma vela simbolizando o fogo( remetendo a ancetralidade de
onde foi trazida a metolologia pela Kay Pranis fogo transmutação0 lápis e papéis.Usamos
também um incenso após o consenso de todos.
Objeto da Palavra: uma imagem de gesso de anjo representando a essência da pessoa como
ser já que ‘ anjos não tem sexo”
O círculo foi realizado com 8 adolescentes sendo que convidamos a participar uma menina
para podermos tratar junto as questões também a questão do machismo como prática de
bulyng.Também presentes no círculo o agente socioeducador Beto e a pedagoga Lilian.
Boas Vindas: Os jovens foram recebidos com almofadas dispostas em círculo, com boas
vindas onde foi explicado que a intenção ali era tratarmos de algumas questões que vinham
ocorrendo dentro do Ceconp e também dentro das unidades sobre bulyng( explicamos o que
era bulyng)mas não direcionamos para o adolescente que gerou a possobilidade de círculo,
falamos em geral porque estas situações ocorrem frequentemente. Foi explicado também
que todos que ali estavam ( excluindo-se a menina) haviam sido convidados para a atividade
e haviam aceitado mas, se algum deles não estivesse a vontade poderia se retirar e não
participar.
Foi explicado novamente sobre a metodologia, sobre a peça de centro e o que representava
cada um dos objetos que lá estavam além do uso e motivo da escolha do objeto da palavra.
Foi explidado também sobre oo sigilo.
Cerimônia de abertura: Foi distribuído a cada integrante um papel e uma caneta onde cada
um deveria escrever uma “prenda’ que o colega da direita deveria fazer ali a seguir. Após
todos realizarem a solicitação foi passada uma rodada do objeto da palavra onde cada um
deles deveria ler a “ prenda” que havia solicitado ao colega. Foi um momento bem
descontraído de muitos risos. Após esta rodada foi suspenso o objeto da palavra e foi
explicado então que aquela atividade seria feita por eles próprios, ou seja, cada um que
escreveu uma atividade para o colega fazer deveria realizar a própria tarefa. E em sequencia
de circulo assim foi feito é claro que com algumas reclamações. Após a realização da tarefa
foi explicado que a intenção ali era praticar e falar um pouco de empatia , ou seja, o se
colocar no lugar do outro. Foi passado novamente o objeto da palavra para que eles
pudessem falar um pouco sobre o que acharam da atividade e os relatos foram bem
interessantes.
Para encerrar foi lido o texto
O Eu Verdadeiro
Um avô da nação Cherokee estava conversando com seu neto.
Uma luta está acontecendo dentro de mim, ele diz ao menino.
É uma luta terrível entre dois lobos.
Um lobo é malvado e feio.
Ele é a raiva, a inveja, a ganância, a guerra, a autopiedade, a tristeza, o arrependimento, a
culpa, o ressentimento, a inferioridade, a mentira, o falso orgulho, a superioridade, o
egoísmo, a arrogância.
O outro lobo é lindo e bom, ele é amigo, alegre, pacífico, amoroso, esperançoso, seeno,
humilde, bondoso, verdadeiro, justo e solidário.
Essa mesma luta está ocorrendo dentro de você e dentro de cada ser humano.
Meu avô, exclama o neto. Qual dos dois vais vencer.
O ancião olhou nos olhos de seu neto e respondeu:
Aquele que você alimentar.
Após a leitura do texto foi dada uma rodada de objeto da palavra para ouvir o que cada um
tinha entendido s ou o que queria comentar sobre o texto.
Check in: Foi passada uma rodada do objeto da palavra com a pergunta:
Como você está se sentindo?
Todos sem exceçãoão relataram estar bem.
Construção de valores:
Foi distribuído papel e lápis a todos e feita a seguinte questão:
Que valor você acha necessário para se sentir à vontade, ser aceito e aceitar tudo o que for
tratado neste grupo?
Foi passada uma rodada de objeto da palavra solicitando que cada um pudesse falar o valor
que trazia além de falar um pouco do porque da escolha deste valor e após colocasse na
peça de centro.
Surgiram valores como respeito, empatia, não julgamento, aceitação,paz, harmonia,
tranqüilidade, alteridade,segurança e as explicações acerca da escolha destes valores foram
bem significativas.
Durante esta rodada um adolescente perguntou o porque daqueles livros e foi explicado que
foram escolhidos propositalmente porque tratavam-se de algumas questões de preconceitos
e que por muitas vezes algumas situações de discriminação ocorrem infringindo também
direitos que deveriam estar garantidos.
Construção das diretrizes:
Foi feito o seguinte questionamento a ser respondido através da rodada de objeto da
palavra:
Baseados nos valores que trouxemos para este grupo, que regras ou contratos poderíamos
deixar registrado para que possamos trabalhar à vontade neste grupo ?
Diretrizes que ficaram registradas:
Ter liberdade para falar sem ser julgado
Ser verdadeiro
Praticar a empatia se colocando no lugar do outro
Respeitar o objeto da palavra
Falar sempre por si mesmo
Respeitar o sigilo
Construídas as diretrizes partimos para a contação de histórias através das perguntas
norteadoras. Todas através da rodada do objeto da palavra.
Como seu melhor amigo descreveria você?
… entrando no assunto…. então este seu melhor amigo/amiga, aquela pessoa que conhece
muito bem você, sabe tudo de você a quem você confia tudo….. certo dia pede para
conversar um assunto sério e conta a você muito sem jeito que é gay. Como você reage?
Surgiram relatos diversos desde nada mudaria e eu apoiaria até eu não andaria mais com ele
porque pensariam que eu também sou gay. Um adolescente disse que sabia bem o que era
isso porque sua mãe se declarou lésbica e ela vem sofrendo muito com isto.
…..Agora vamos tentar inverter a situação… faz de conta que é o contrário, que você contou
isso para seu amigo/amiga e ele teve com você a mesma reação que você descreveu que
teria com ele. Se acontecesse isso como você se sentiria? Quais os sentimentos que você
acredita que ressaltariam em você?
Passado o objeto da palavra procuramos (os três adultos participantes) trazer à tona a
questão do quanto é importante se colocar no lugar do outro e foi uma discussão muito boa,
fez com que refletissem um pouco.
…Vamos falar um pouco sobre a atividade de vocês no Educandário. Quando vocês chegam
lá pela primeira vez qual o sentimento que desperta em vocês?
…..Qual o sentimento que você acreditam que o restante da sociedade tem em relação
aquelas crianças?
… Vocês sabem a diferença entre preconceito e discriminação?
Procuramos fazer reflexões sobre o quanto é importante praticarmos a empatia para que
possamos dar fim a alguns preconceitos e discriminações que muitas vezes fazemos
esquecendo o sentimento que é gerado na pessoa que escuta estas discriminações.
Trabalhamos também durante estas rodadas, fazendo um link sobre o texto lido na
cerimônia de abertura , o bem sobre os sentimentos que alimentamos dentro de nós e que
devemos sempre lembrar de que não fazemos aos outros o que não gostaríamos que
fizessem para nós e que esta é uma forma bem eficiente de alimentarmos o lobo do bem.
Exploramos muito a questão da escolha do objeto da palavra “anjo” porque precisamos
lembrar que o importante é a essência da pessoa e não importa e não faz diferença na vida
de ninguém sua preferência pessoal, sua cor, sua raça, sua religião……
Alguns jovens conseguiram fazer um link com a questão das situações em que eles são
discriminados por estarem cumprindo uma medida e conseguiram chegar a questão do
quanto faz mal quando somos rotulados e criticados sem possibilidade de defesa.
O mesmo jovem que havia feito relato de sua mãe ter se declarado lésbica em um momento
trouxe a historia de como ocorreu, que sua mãe era chefe de tráfico e por conta disto
levavam uma vida muito boa em uma casa enorme com as melhores roupas e os melhores
carros e após ela ter sido traída pelo seu pai a mesma resolveu inclusive largar o tráfico
porque quis se afastar de todos, vendendo inclusive a casa por uma “bagatela”. Que hoje os
dois vivem em pequenas peças alugadas, que andam de ônibus e vestem roupas simples, em
função disto muitas pessoas se afastaram mas que eles continuam se amando como sempre
foi e que isto é o que importa verdadeiramente. Trouxemos também a questão de que
compreendendo isto ao se deparerem com uma situação decorrente devem ajudar nas falas
para que isto não se multiplique o que foi visto por eles como muito saudável,
Cerimônia de fechamento
Fizemos a dinâmica do presente onde embalamos uma caixa de bombom que foi entregue
para um jovem com um bilhetinho. Foi explicado que aquela caixa seria de um daqueles
bilhetinhos , portanto ao receber ele deveria ser lido em voz alta. Em cada bilhete constava
uma descrição e ao final dizia que aquele presente não seria dele e que deveria entregar a
caixa por exemplo a pessoa mais simptática do grupo …. e assim por diante.o ultimo a
receber a caixa tinha a característica de solidário e por fim distribuía os bombons entre
todos.
Check out
Foi passado uma rodada do objeto da palavra com a seguinte pergunta:
Como você está se sentindo?
Todos sem exceção disseram estar muito bem , alguns muito felizes elogiaram muito a
atividade pedindo que ocorresse mais seguido.
Bem já descrevi acima o porque não houve a possibilidade de fazer um círculo de maior
complexidade mas os integrantes do círculo conforme orientação da professora Eliane foram
os entrevistados no pré círculo exceto a menina que foi convidada pela questão de
podermos tratar sobre o machismo alem disto também faz parte do projeto do edunandário
com os outros jovens. A menina durante o círculo não chegou a trazer muito significativa a
questão do machismo mas falou muitas vezes do “ julgamento’ a que são sempre
submetidos.
……
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